Metodologia: Fundamentos da Pesquisa Qualitativa
A pesquisa qualitativa se distingue por sua capacidade de capturar detalhes que escapam às limitações dos métodos quantitativos, pois destaca o significado e a profundidade da linha de pesquisa em relação a mera quantificação.
A adoção da pesquisa qualitativa representa o comprometimento com a investigação aprofundada, independente da linha de pesquisa.
Quando é aplicada uma pesquisa de campo – entrevista, questionário online, entre outras –, a pesquisa qualitativa desenvolve um vínculo com as percepções subjetivas de seus participantes.
No processo de exploração do universo da pesquisa qualitativa, é necessária uma compreensão sólida e fundamentada a respeito das características desse procedimento metodológico.
Com foco em contexto, existência, experiências, visões, significados e subjetividades, a pesquisa qualitativa fornece um prisma distinto para a exploração e interpretação das complexidades dos fenômenos sociais.
A pesquisa qualitativa se difere da pesquisa quantitativa, não como oposta, mas sim como complementar, cada uma com os seus méritos e esferas específicas de aplicação (White; Cooper, 2022).

A pesquisa quantitativa proporciona resultados numéricos e exames estatísticos, enquanto a pesquisa qualitativa penetra nas complexas texturas das experiências e visões humanas.
A pesquisa qualitativa registra circunstâncias e sutilezas que, muitas vezes, são omitidas na representação numérica – pesquisa quantitativa.
A investigação científica por meio de pesquisa qualitativa se destaca pelo enfoque na densidade e riqueza contextual e vocal para decifrar fenômenos sociais.
Por meio da pesquisa qualitativa, a análise de experiências subjetivas, bem como a verificação de percepções e significados que os indivíduos conferem ao seu entorno social, valoriza a abertura metodológica e emprega uma gama de técnicas.
A flexibilidade e adaptabilidade inerentes à pesquisa qualitativa são essenciais, bem como seu compromisso em registrar um espectro extenso de experiências e visões humanas (Maxwell, 2021).
As técnicas aplicadas na pesquisa qualitativa fornecem uma compreensão profundamente contextualizada, com percepções que se alinham às experiências genuínas dos indivíduos.
Com a adoção da pesquisa qualitativa, o pesquisador planeja os processos do estudo de forma meticulosa, e aplica práticas de verificação para legitimar a credibilidade, a confiabilidade, a confirmabilidade e a transferibilidade dos resultados (Klag; Langley, 2012).
A afirmação de que a pesquisa qualitativa é desprovida de rigor ou inferior à pesquisa quantitativa é uma premissa equivocada.
A solidez dos métodos qualitativos não provém de validações estatísticas, mas sim da prática de reflexividade.
A pesquisa qualitativa possui, como característica, a avaliação crítica contínua dos pesquisadores sobre a influência que exercem sobre o processo e os resultados do estudo.
Os métodos qualitativos exploram o poder da subjetividade, convertendo-a em uma fonte de percepções extensas que enriquecem a compreensão dos fenômenos sociais.
A pesquisa qualitativa se compromete rigorosamente com a coleta dos dados – revisão bibliográfica, pesquisa de campo, estudo de caso, entre outros instrumentos qualitativos –, além de ter a possibilidade de aplicar os processos de análise, discussão e resultados destas informações (Hammarberg; Kirkman; Lacey, 2016).
A pesquisa qualitativa assegura que as conclusões obtidas apresentem uma teia de percepções significativas, alicerçadas contextualmente, ao mesmo tempo em que se ancoram em evidências empíricas.
A estratégia equilibrada de processos metodológicos aplicados na pesquisa qualitativa age como uma proteção contra equívocos de interpretação arbitrária, o que eleva a confiabilidade dos resultados do estudo.
A pesquisa qualitativa se estabelece como uma metodologia que integra de forma harmoniosa aspectos subjetivos e empíricos, e fornece uma perspectiva de largo espectro para a análise de cada linha de pesquisa, independente do setor de investigação (Corbin; Strauss, 2015).
A pertinência da pesquisa qualitativa é determinada pela essência do fenômeno analisado, pela problemática específica em estudo e pelos propósitos gerais da investigação.
Analisar as motivações subjacentes às ações dos consumidores em um mercado emergente, por exemplo, corresponde às capacidades da pesquisa qualitativa, em virtude da sua capacidade de elucidar as nuances das experiências e concepções humanas (Hammarberg; Kirkman; Lacey, 2016).
Em contraste, aferir a proporção de uma população que sustenta uma visão particular exige uma metodologia quantitativa, e evidencia uma circunstância na qual a pesquisa qualitativa pode não ser adequada.

O pesquisador deve analisar e definir, de maneira meticulosa, os métodos de investigação, com o propósito de assegurar que a configuração do estudo esteja alinhada com os objetivos e o problema de pesquisa, e assim, tratar de forma apropriada os parâmetros estabelecidos pela linha de pesquisa (Maxwell, 2021).
Pesquisadores em início de carreira frequentemente enfrentam dificuldades ao assimilar as metodologias de pesquisa qualitativa e quantitativa.
As particularidades destes métodos incrementam a complexidade que tais indivíduos experienciam ao avançar em suas jornadas acadêmicas ou científicas.
Um dos obstáculos principais para esses pesquisadores é a aquisição de conhecimento sobre os conceitos e a filosofia subjacentes à pesquisa qualitativa, aspecto frequentemente ressaltado em suas investigações (Cuthbertson; Robb; Blair, 2020)
Observa-se na literatura especializada que a maioria das investigações se concentra nas particularidades distintas e focadas da pesquisa qualitativa.
Alguns exemplos: a) Instrumentos para a realização da pesquisa (Braun; Clarke; Boulton; Davey; McEvoy, 2020); b) Volume da amostra (Hennink, Kaiser, 2022); c) Estratégias ágeis (Vindrola-Padros; Johnson, 2020); entre outros.
A pesquisa qualitativa é uma técnica metodológica empregada nas ciências sociais, humanidades e em diversas outras áreas e subáreas para explorar e decifrar os significados, estruturas e detalhes sutis das vivências, comportamentos e eventos humanos.
Por meio deste procedimento metodológico, é priorizada a aquisição de dados qualitativos – conteúdo textual, argumentos, discussões, imagens, quadros com exposição de dados informativos, observações de pesquisadores da área e, principalmente, do próprio autor, entre outros elementos de caráter qualitativo.
Com estes processos qualitativos, o pesquisador é capaz de desenvolver a sua pesquisa com uma visão aprofundada sobre a linha de pesquisa investigada, cuja estratégia contrasta com a pesquisa quantitativa, a qual foca em informações numéricas e análises estatísticas – processos quantitativos (Bechhofer; Paterson, 2012).
O propósito principal da pesquisa qualitativa consiste em interpretar experiências humanas em determinados fenômenos por meio de uma perspectiva humanística e interpretativa.
Fenômenos como emoções, percepções, ações e interações em contextos específicos exemplificam tais vivências humanas, e caracterizam um dos princípios da pesquisa qualitativa.
A compreensão destas experiências por meio da pesquisa qualitativa está associada à descrição e/ou mensuração de aspectos humanos, bem como está vinculada à análise sobre a essência e as nuances dessas vivências com o propósito de elucidar significados e perspectivas.
A perspectiva interpretativa salienta como os indivíduos concebem e interpretam suas experiências de forma singular, e nesse sentido, a pesquisa qualitativa capta a profundidade, o contexto e o significado intrínseco das experiências humanas (Jackson; Drummond; Camara, 2007).
A pesquisa qualitativa emprega uma perspectiva integral a partir da avaliação de contextos atribuídos à linha de pesquisa explorada, embora não envolva a totalidade dos indivíduos.
Esta modalidade investigativa é impraticável para aplicação em populações inteiras. Logo, a extrapolação dos resultados da pesquisa qualitativa não é viável para todos os indivíduos, mas sim para um indivíduo em particular, ou então, um conjunto de indivíduos inseridos em uma determinada população, isto é, um subconjunto da população total.
A pesquisa qualitativa é a exposição das circunstâncias nas quais sujeitos ou agrupamentos almejam entregar uma visão detalhada das questões globais com as quais se deparam (Korstjens; Moser, 2017).
Os especialistas assinalam que as ações, os sentidos e as vivências dos sujeitos são influenciados por contextos sociais, culturais e históricos determinados nos quais residem.
Ao ponderar a diversidade de contextos, os indivíduos que habitam ambientes distintos percebem um determinado fenômeno sob variados modos, e consequentemente, interpretam o significado de suas vivências de formas distintas.
As experiências de docentes de língua inglesa que vivem em Bangladesh podem divergir das vivências de docentes que vivem na Malásia, por exemplo (Bryman; Stephens; Campo, 1996).
Os dados qualitativos são extremamente dependentes do contexto, portanto, a compreensão acurada do contexto é determinante para interpretar corretamente os resultados da pesquisa qualitativa.

A pesquisa qualitativa concentra-se em percepções e experiências dos indivíduos envolvidos no contexto da linha de pesquisa.
O propósito da pesquisa qualitativa, nesse contexto, é registrar as interpretações subjetivas que os indivíduos conferem às suas experiências, e proporcionar uma análise apropriada sobre as suas interpretações (Parker, 2017).
Os pesquisadores frequentemente apreciam a investigação qualitativa por sua flexibilidade e adaptabilidade em diversos contextos, a qual é iniciada, normalmente, com uma questão investigativa ampla – problema de pesquisa – e aplica um plano de estudo adaptável – objetivo geral, objetivos específicos, justificativa e hipóteses.
Os pesquisadores podem iniciar a pesquisa qualitativa com uma compreensão geral dos assuntos a serem examinados em sua linha de pesquisa, contudo, aceitam alterações e ajustes conforme avançam na análise.
Tal flexibilidade facilita a adaptação à dinâmica das descobertas que evoluem. A pesquisa qualitativa adota um projeto emergente, no qual a trajetória e o enfoque do estudo se desenvolvem à medida que novas percepções e padrões surgem dos dados coletados.
Em contraste com a pesquisa quantitativa, que se baseia em variáveis e hipóteses estabelecidas previamente, os pesquisadores qualitativos permanecem receptivos a modificar seus processos metodológicos, de acordo com novos aprendizados obtidos durante o desenvolvimento da pesquisa (Thille; Chartrand; Brown, 2022).
Ao ponderar a natureza iterativa da pesquisa qualitativa, os pesquisadores têm a oportunidade de aprimorar suas questões de pesquisa e métodos de coleta de dados à medida que o estudo avança.
Os pesquisadores podem revisar seu método com base nas descobertas preliminares, e assim, certificar que as futuras coletas de dados atendam as expectativas pré-estabelecidas com maior precisão e relevância.
Em virtude da natureza flexível da pesquisa qualitativa, é viável realizar uma coleta de dados dinâmica na pesquisa qualitativa, além da tradicional revisão bibliográfica narrativa (revisão de literatura).
Como instrumentos de apoio para a revisão bibliográfica, os pesquisadores podem aplicar técnicas de coleta – entrevistas, questionários online, estudo de caso, caso clínico, entre outras técnicas disponíveis no campo de estudo investigado –, com interações ativas e práticas dos participantes (Burdine; Thorne; Sandhu, 2021).
Essa interação dinâmica, por sua vez, oferece aos pesquisadores a oportunidade de explorar trajetórias investigativas não antecipadas e realizar modificações nas estratégias de pesquisa, sustentado nas respostas dos participantes.
Os dados qualitativos estão abertos a descobertas inesperadas que podem não ser inicialmente consideradas pelos pesquisadores.
Os novos achados podem revelar perspectivas valiosas sobre a linha de pesquisa investigada, e nesse sentido, os pesquisadores podem redirecionar os procesos metodológicos para investigar esses elementos inesperados com maior profundidade.
Essa receptividade aos dados qualitativos resulta em uma compreensão mais proficiente e nuances significativas a respeito do fenômeno em análise (Bouncken; Qiu; Sinkovics; Kürsten, 2021).
REFERÊNCIAS:
BECHHOFER, Frank; PATERSON, Lindsay. Principles of research design in the social sciences. London: Routledge, 2012. 192 p. DOI: 10.4324/9780203136720. ISBN (eBook): 9780203136720.
BOUNCKEN, Ricarda B.; QIU, Yixin; SINKOVICS, Noemi; KÜRSTEN, Wolfgang. Qualitative research: extending the range with flexible pattern matching. Review of Managerial Science, [s.l.], v. 15, n. 2, p. 251-273, feb. 2021. DOI: 10.1007/s11846-021-00451-2.
BRAUN, Virginia; CLARKE, Victoria; BOULTON, Elicia; DAVEY, Louise; MCEVOY, Charlotte. The online survey as a qualitative research tool. International Journal of Social Research Methodology, [s.l.], v. 24, n. 6, p. 641-654, aug. 2020. DOI: 10.1080/13645579.2020.1805550.
BRYMAN, Alan; STEPHENS, Mike; CAMPO, Charlotte. The importance of context: qualitative research and the study of leadership. The Leadership Quarterly, [s.l.], v. 7, n. 3, p. 353-370, 1996. DOI: 10.1016/S1048-9843(96)90025-9.
BURDINE, Julie Thompson; THORNE, Sally; SANDHU, Gurjit. Interpretive description: a flexible qualitative methodology for medical education research. Medical Education, [s.l.], v. 55, n. 3, p. 336-343, mar. 2021. DOI: 10.1111/medu.14380.
CORBIN, Juliet; STRAUSS, Anselm. Basics of qualitative research. Techniques and procedures for developing grounded theory. 4. ed. Sage Publications, Inc., 2015. 456 p. ISBN-10: 1412997461. ISBN-13: 978-1412997461.
CUTHBERTSON, L. M.; ROBB, Y. A.; BLAIR S. Theory and application of research principles and philosophical underpinning for a study utilising interpretative phenomenological analysis. Radiography, [s.l.], v. 26, n. 2, p. e94-e102, may 2020. DOI: 10.1016/j.radi.2019.11.092.
HAMMARBERG, K., KIRKMAN, M., & DE LACEY, S. Qualitative research methods: when to use them and how to judge them. Human Reproduction, [s.l.], v. 31, n. 3, p. 498–501, mar. 2016. DOI: 10.1093/humrep/dev334.
HENNINK, Monique; KAISER, Bonnie N. Sample sizes for saturation in qualitative research: a systematic review of empirical tests. Social Science & Medicine, [s.l.], v. 292, jan. 2022. DOI: 10.1016/j.socscimed.2021.114523.
JACKSON, Ronald L.; DRUMMOND, Darlene K.; CAMARA, Sakile. What is qualitative research? Qualitative Research Reports in Communication, [s.l.], v. 8, n. 1, p. 21-28, oct. 2007. DOI: 10.1080/17459430701617879.
KLAG, Malvina; LANGLEY, Ann. Approaching the conceptual leap in qualitative research. International Journal of Management Reviews, [s.l.], v. 15, n. 2, p. 149–166, sep. 2012. DOI: 10.1111/j.1468-2370.2012.00349.x.
KORSTJENS, Irene; MOSER, Albine. Series: Practical guidance to qualitative research. Part 4: Trustworthiness and publishing. European Journal of General Practice, [s.l.], v. 24, n. 1, p. 120-124, aug. 2017. DOI: 10.1080/13814788.2017.1375092.
MAXWELL, Joseph A. The importance of qualitative research for investigating causation. Qualitative Psychology, [s.l.], v. 8, n. 3, p. 378–388, 2021. DOI: 10.1037/qup0000219.
PARKER S. How to do qualitative research? In: RANZCP 2017 Congress, 30 April–4 May 2017; Adelaide, Australia. London, United Kingdom: Sage Publication, 2017.
THILLE, Patricia; CHARTRAND, Louise; BROWN, Cara. Diary-interview studies: longitudinal, flexible qualitative research design. Family Practice, [s.l.], v. 39, n. 5, p. 996-999, oct. 2022. DOI: 10.1093/fampra/cmac039.
VINDROLA-PADROS, Cecilia; JOHNSON, Ginger A. Rapid techniques in qualitative research: A critical review of the literature. Qualitative Health Research, [s.l.], v. 30, n. 10, p. 1596-1604, aug. 2020. DOI: 10.1177/1049732320921835.
WHITE, Robert E.; COOPER, Karyn. Ethnographic inquiry. In: WHITE, Robert E.; COOPER, Karyn. (Orgs.). Qualitative research in the post-modern era: critical approaches and selected methodologies. Springer International Publishing, 2022. DOI: 10.1007/978-3-030-85124-8_6. Print ISBN: 978-3-030-85126-2. Online ISBN: 978-3-030-85124-8. pp. 185–232.
Publicar comentário